quarta-feira, 20 de julho de 2022

Diplomata diz ao Le Monde que a reunião de Bolsonaro com embaixadores foi “patética e preocupante”


“Não sei se foi mais patético ou preocupante. Tendo a ficar com a primeira opção”, disse um diplomata no Brasil ao jornal Le Monde. “Para muitos, esse ‘discurso’ aos embaixadores aparece primeiro como uma confissão de fraqueza para um presidente em dificuldade, determinado a atacar um pleito perdido de antemão”, relata o correspondente Bruno Meyerfeld em artigo publicado nesta quarta no periódico francês.

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“Quanto à forma, pretendia-se ser sério”, ironiza. “Mas o conteúdo não enganou ninguém: o presidente atacou as instituições que ele teoricamente deveria proteger”. A publicação de Paris fala em “amadorismo certo”.

“Divulgada em massa nas redes, a demonstração certamente não convenceu os diplomatas presentes, visivelmente desconfortáveis, e que fracamente (ou simplesmente não) aplaudiram esse discurso de tom golpista”, afirma.

“Organizado às pressas, o evento foi marcado por um certo amadorismo. Diversos embaixadores importantes, como da China e da Argentina, não receberam convite. Os slides presidenciais estavam cheios de erros ortográficos”.

“Bolsonaro decidiu provocar uma nova tempestade política”, avalia o cotidiano. “Enfraquecido, Jair Bolsonaro poderia se tornar ainda mais perigoso”, considera.

“A três meses do pleito, os brasileiros parecem prontos para virar a página: só um eleitor em cada quatro apoia a ação do chefe de Estado. Em questão, a lassitude do ‘estilo Bolsonaro’, a gestão catastrófica da crise de Covid-19, a inflação crescente, mas também diversos casos de corrupção visando ao círculo do presidente, inclusive seu filho Flávio Bolsonaro”, analisa. “A imagem do ‘capitão íntegro’ começou mal”.

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A reação americana, que considerou as eleições brasileiras como um modelo mundial, foi vista como mais do que um fracasso, aos olhos do principal jornal da França. “Uma humilhação monumental para Bolsonaro”.

Na Bélgica, o jornal La Libre lembrou que não é a primeira vez. “Há meses, o presidente Jair Bolsonaro, grande fã de Donald Trump, multiplica declarações para falar do voto eletrônico do Brasil sem explicar as razões de suas críticas num país que foi pioneiro nesse sistema com sucesso desde 1996.”

O espanhol El Mundo fala em “déjà vu trumpista de Bolsonaro”, que “preocupa no Brasil”. “O mandatário de extrema direita ressuscita os mantras de Trump sobre fraude eleitoral e uma conspiração contra ele diante de pesquisas que dão Lula em vantagem de até 19 pontos”.

“Bolsonaro se atreverá a imitar Trump até as últimas consequências e negar-se a reconhecer o resultado, tal como fez o ex-presidente estadunidense naquelas frenéticas semanas?”, questiona o repórter Sebastian Fest. “Não é para se descartar nenhum pouco”.

Em Portugal, o canal de televisão RTP destacou a reação dos presentes na fatídica coletiva. “Embaixadores no Brasil rejeitam alegações de Bolsonaro sobre falta de fiabilidade das urnas eletrônicas”.

“Embaixadores presentes no encontro desta segunda-feira com o Presidente brasileiro rejeitaram a falta de fiabilidade das urnas eletrônicas alegada por Jair Bolsonaro, considerando tratar-se de uma estratégia eleitoral falhada, a menos de três meses das presidenciais.”

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“Numa apresentação marcada por erros de ortografia e de tradução, Bolsonaro tentou fazer com que os embaixadores de uma dezena de países, incluindo o português Luís Faro Ramos, concordassem com alegados riscos para a democracia que poderiam surgir nas próximas eleições do Brasil em outubro, nas quais ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece como favorito e lidera todas as sondagens já divulgadas”, observa.

No mesmo país, o portal Público destaca o possível crime. “Bolsonaro terá cometido abuso de poder em encontro com embaixadores”.

“Especialistas em direito afirmam que se justificava a perda do mandato ou a abertura de um processo de destituição contra o Presidente brasileiro”, relatam os repórteres Paula Soprana e Géssica Brandino.

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