sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O Bolsonaro está naufragando o Brasil com inflação alta, fome, desemprego e miséria


Em política, já virou um truísmo a previsão de que o estado da economia determina o destino do governante. Se ela vai bem, ele pavimentou o caminho para continuar no poder. Se vai mal, não há força capaz de sustentá-lo. Jair Bolsonaro não é exceção, mas o caso dele é especialmente grave. A impressionante coleção de más notícias numa área tão sensível obrigará o presidente a acertar contas com sua gestão, que foi paupérrima em realizações, apesar de rica em ataques e ameaças golpistas. Ele colhe resultados decepcionantes, pois nunca se preocupou em plantar resultados.

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É uma tempestade perfeita. A inflação se aproxima dos dois dígitos e já atinge níveis que não eram vistos desde que o plano real estabilizou a moeda, há mais de 20 anos. A alta de preços para os pobres já ultrapassou 10% em 12 meses. O IGP-M, que regula o reajuste dos aluguéis, subiu quase 34% em doze meses. A disparada do dólar supera 40% desde o início da gestão. Na última semana, passou a barreira dos R$ 5,50, alcançando o maior valor desde 2014. O real é a moeda que mais se desvalorizou desde o início da pandemia, segundo o FMI. E esses números acontecem na contramão do discurso oficial. Há dois anos, o ministro Paulo Guedes prometeu uma revolução de energia barata. Mas o consumidor sentiu o contrário. A gasolina também subiu mais de 40% desde janeiro de 2019, atingido o maior valor desde 2003. O preço médio do botijão de gás, igualmente, é o maior dos últimos 20 anos.

“BOLSOCARO” Lambe-lambe na avenida Paulista, em São Paulo, critica a explosão de preços dos alimentos e dos combustíveis (Crédito:Roberto Parizotti )

Ao invés de reconhecer o problema, Bolsonaro faz o que está acostumado: transfere a responsabilidade e parte para o ataque. Desta vez, os governadores serviram de bode expiatório. Para avançar sobre seus adversários, o presidente contou com a ajuda marota do presidente da Câmara.

O momento atual é comparável apenas à derrocada do governo Dilma, à crise global de 2008 e à eleição de 2002, diz a economista Anna Carolina Gouveia, do Ibre-FGV. Para ela, a incerteza por conta da pandemia deu lugar à incerteza política e à inflação. A especialista alerta que a crise política impacta a questão monetária. “Esse cenário afeta até mesmo o instrumento de combate à inflação que o BC tem usado”, diz. Para conter a corrosão do poder aquisitivo, o BC foi obrigado a interromper o ciclo de queda das taxas de juros, elevando a Selic em 4,25 pontos percentuais em sete meses, o que também conterá o crescimento em 2022.

“A escolha do governo em valorizar o câmbio sem ter base na poupança fez com que a inflação subisse muito”, critica o economista Roberto Ellery Jr., da UnB. Ele condena o atual populismo econômico. Para ele, a situação é dramática porque não há confiança na política fiscal e, ao mesmo tempo, a inflação cresce. “Esse cenário é resultado de outro populismo, o fiscal: o Banco Central manteve os juros baixos por muito tempo. A inflação só reflete essa sequência de erros”, afirma. Como outros economistas, ele critica as tentativas de driblar as regras fiscais. Lembra que o teto de gastos foi criado justamente para evitar que governos gastassem muito por objetivos questionáveis. O orçamento também está sendo atropelado pela lei, já aprovada, que permite usar receitas previstas (ainda não existentes) para bancar aumentos de gastos. É o truque concebido pelo governo para driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal e pedalar as contas públicas sem ser acusado de praticar um crime de responsabilidade. “O governo quer quebrar qualquer limite fiscal, mas evitando deixar isso claro. O mercado, que não é bobo, já percebeu”, diz o professor da UnB.

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