terça-feira, 5 de outubro de 2021

Escândalo: Veja como o Paulo Guedes fez aumentar o próprio patrimônio com a manipulação da política econômica


Depois de abrir em 2014 a offshore Dreadnoughts International, nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, ministro da Economia, Paulo Guedes, valorizou o seu patrimônio em pelo menos R$ 14 milhões, desde 2019, em consequência do aumento do dólar. A informação foi publicada pela BBC News. Atualmente, o equivalente em reais dos US$ 9,55 milhões aportados na empresa é de R$ 51 milhões. O dólar mais caro faz crescer o equivalente em reais das aplicações para quem tem conta no exterior. A moeda norte-americana ficou 40% mais cara desde o início do governo de Jair Bolsonaro.

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A denúncia sobre a offshore de Guedes e os dados estatísticos sobre a empresa foram publicados pelo Pandora Papers, projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. E, com o aumento do patrimônio por meio de offshore, algumas declarações do ministro foram lembradas. 

Durante evento organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em julho, Guedes defendeu retirar do projeto de lei do Imposto de Renda a regra que tributaria recursos de brasileiros em paraísos fiscais. "Ah, 'porque tem que pegar as offshores' e não sei quê. Começou a complicar? Ou tira ou simplifica. Tira. Estamos seguindo essa regra", disse o ministro.

No mês anterior, com o dólar acima de R$ 5, o ministro repetiu, em fala na Fiesp, que ele e sua equipe queriam o "juros mais baixos e câmbio de equilíbrio um pouco mais alto". Em tese, seriam juros baixos para baratear o crédito, porém, com juros baixos demais, a demanda pode ser um dos motivos para aumentar a inflação e prejudicar o consumo. 

Em novembro de 2019, Guedes afirmou, em visita a Washington, que os brasileiros deveriam "se acostumar" com o câmbio mais alto, que seria um reflexo da nova política econômica, com juro de equilíbrio mais baixo. "O dólar está alto? Problema nenhum, zero", disse, na ocasião.

Conflito de interesse

Em suas manifestações à imprensa, o ministro disse que informou à Comissão de Ética Pública sobre seus negócios no prazo estipulado, até dez dias após assumir o cargo, em 2019. 

O Pandora Papers divulgou que a Comissão de Ética Pública julgou os negócios de Guedes no último mês de julho, mais de dois anos e meio depois de Guedes assumir o ministério. A Comissão arquivou sem divulgar suas razões, sob o argumento de que o caso seria sigiloso por envolver dados sensíveis.

À BBC News, o advogado Wilton Gomes, mestre e doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), considera "absurdo" o período de dois anos que a comissão levou para analisar o caso do ministro. "O conflito de interesse está instaurado, por mais que não tenha havido ação deliberada para aquela finalidade. Não é preciso comprovar que ele teve alguma atitude que o favorecesse, mas evitar o conflito de interesse."

O ministro disse, por meio de sua assessoria, que as atividades privadas dele anteriores à sua posse como ministro foram informadas aos órgãos competentes. "Toda a atuação privada do ministro Paulo Guedes, anterior à investidura no cargo de ministro, foi devidamente declarada à Receita Federal, Comissão de Ética Pública e aos demais órgãos competentes, o que inclui a sua participação societária na empresa mencionada", disse trecho da nota enviada.

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