quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A jornalista Miriam Leitão diz que o Bolsonaro faz encenação e que não acredita na agenda do Paulo Guedes

Foto: Reprodução | Carolina Antunes/PR
A jornalista Miriam Leitão avalia, em sua coluna, que Jair Bolsonaro fez uma grande encenação, na noite de ontem, ao prometer apoio à política do teto de gastos. "Bolsonaro tem medo de perder Paulo Guedes, mas não acredita na agenda dele. Gosta do que ouve dos ministros fura-teto, mas não quer ficar sem sua placa do Posto Ipiranga. Os erros de Guedes o enfraqueceram, a pandemia fortaleceu o argumento do aumento de gastos. Indeciso, Bolsonaro tem apenas um alvo: a reeleição em 2022", afirma.

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro ensaiou nesta quarta-feira um discurso alinhado com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-RJ), em defesa da manutenção do teto de gastos e da responsabilidade fiscal, após reunião que reuniu os três, além de ministros em meio às incertezas da equipe econômica de tocar a agenda de reformas.
“Nós, em que pese o problema da pandemia, o Brasil está indo bem, a economia está reagindo e nós aqui —pelo menos, com essa reunião— queremos direcionar as nossas forças para o bem comum daquilo que todos nós defendemos: queremos o progresso, o desenvolvimento e o bem-estar do nosso povo”, disse Bolsonaro, em entrevista após o encontro no Palácio da Alvorada.
“Nós respeitamos o teto dos gastos, queremos a responsabilidade fiscal e o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor reagirá à questão da crise”, destacou.
Na véspera, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu ter havido uma “debandada” de sua equipe econômica, com os pedidos de as demissão de Sallim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização). Os secretários deixaram os cargos insatisfeitos com o andamento das privatizações e da reforma administrativa.
O movimento ocorre diante de pressões de parlamentares e de integrantes do próprio governo de buscar uma flexibilização dos gastos públicos para realizar investimentos sem eventuais cortes na máquina federal.
Guedes chegou a dizer na terça-feira que uma tentativa de “furar” o teto de gastos para aumentar despesas públicas poderia aproximar o presidente da “zona de impeachment”.
Nesta quarta, o dólar fechou em alta ante o real, afetado por incertezas sobre a capacidade de a equipe econômica tocar pautas reformistas. Guedes, que participou da reunião na Alvorada, não deu declarações à imprensa.
Sem falar em prazos, Bolsonaro afirmou que o encontro serviu para discutir pautas como privatizações e reformas, como a administrativa. Ele disse que há um compromisso de os presentes, mesmo sendo ano eleitoral, de buscar juntos “soluções, destravar a nossa economia e colocar o Brasil no local que ele sempre mereceu estar”.
Bolsonaro citou a ausência “justificada” no encontro do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que está tratando de uma pneumonite alérgica, em uma indicação de que pretendia dar ares de pacto para a reunião desta quarta.
GATILHOS
Assim como na véspera em fala conjunta com Paulo Guedes, o presidente da Câmara disse que há “muito o que fazer” e reafirmou o compromisso em defesa do teto de gastos e alertou para a necessidade de votação da regulamentação dos seus gatilhos para dar condições de administrar o Orçamento da União.
Em um sutil tom de cobrança, Rodrigo Maia aproveitou sua declaração para afirmar que a Câmara está pronta para analisar a reforma administrativa, assim em que o governo enviá-la.
Por sua vez, o presidente do Senado afirmou que é preciso “nivelar” as agendas política e econômica. Ele defendeu a construção de um consenso na sociedade em torno da reforma administrativa e do pacto federativo. Destacou ainda que o alinhamento das agendas após a pandemia do novo coronavírus é “fundamental”.
Entre outros participantes do encontro estavam o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que tem sido apontado nos bastidores como um dos que pressionam pela flexibilização do teto de gastos, e parlamentares, como o novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

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