Brasília vive dias estranhos. O mandatário permanece confinado no Palácio do Alvorada, enquanto o presidente eleito é obrigado a preencher o vácuo político acelerando a formação de seu governo. Bolsonaro continua calado, à espera de uma sublevação militar que não virá. Ao mesmo tempo, Lula corre para evitar que cresçam as turbulências na economia, por causa da ausência de definição em seu projeto econômico. O petista também percebeu que cresciam os ruídos na área militar, cultivados pelo bolsonarismo. Por isso, já antecipou a definição nesse setor vital. Os últimos dias foram intensos na capital federal, para onde o futuro presidente se deslocou, com uma agenda intensa.
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Lula já sabia que receberia o País em uma situação mais delicada do que a de 2003. Mas a herança maldita de Bolsonaro rende dores de cabeça ao petista antes mesmo da transmissão da faixa presidencial. Lula deparou-se com um vazio no centro do poder, que resulta da reclusão de Bolsonaro — ainda inconformado com a derrota — e de um apagão de dados em várias áreas. Não bastasse, enfrenta no Congresso um Centrão turbinado e com mais poder de barganha. Diante do campo minado, o petista tenta desarmar bombas e ampliar alianças para fortalecer sua gestão.
O Orçamento está no centro das preocupações. É consenso que Bolsonaro, no apagar das luzes, mandou uma peça de ficção ao Congresso. A lei orçamentária está cheia de armadilhas e não permite o funcionamento da máquina. A prioridade, sob a ótica petista, é aprovar a PEC da Transição, que pode abrir espaço para despesas, ao retirar da conta do teto de gastos R$ 175 bilhões do Bolsa Família e R$ 23 bilhões para investimentos. Depois de um mês travada, a medida entrou em tramitação nesta semana, quando Lula mandou protocolá-la no Senado para, então, estabelecer uma margem para negociação. Grão-petistas admitem, porém, que a PEC deve ficar “mais enxuta” no Congresso, que estuda reduzir o valor extra-teto para algo em torno de R$ 100 bilhões e diminuir o prazo de vigência do texto de quatro para um ou dois anos, a fim de evitar um “cheque em branco” a Lula. De qualquer forma, com mais espaço fiscal, o próximo governo ganhará fôlego.
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No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o centro do poder em Brasília nesses dias, Lula já começa a reunir os relatórios dos 31 grupos de trabalho da transição, que elencaram as principais deficiências do atual governo. O núcleo da Saúde, por exemplo, reivindicou a recomposição de orçamento de R$ 22,7 bilhões para atender necessidades emergenciais. “Recomendamos o destaque de pontos críticos, como o enfrentamento da Covid-19, a recuperação do Programa Nacional de Imunização, a resolução de problemas gravíssimos na área de assistência da Farmácia Popular e o enfrentamento das filas”, anunciou o ex-ministro Arthur Chioro. Mas a crise atropela qualquer planejamento. Enquanto o CCBB fazia contas, o governo anunciou novo corte de R$ 1,68 bilhão no orçamento do MEC, sendo R$ 220 milhões das universidades públicas e institutos federais. Reitores anunciaram que ficariam sem recursos para pagar a conta de luz no fim de ano.
Lula deseja Haddad como um nome político para a Fazenda. Aliados e o mercado não concordam
O grupo de transição corre contra o relógio, uma vez que o Congresso entra em recesso em 20 de dezembro. Lula queria anunciar seu ministério somente depois da diplomação, prevista para o dia 19 pelo TSE. O cenário adverso levou à antecipação da cerimônia para o dia 12. Depois de conversas conduzidas em São Paulo e Brasília, ele também resolveu antecipar a definição na vital área econômica. Inseriu Fernando Haddad, o preferido para a Fazenda, no núcleo econômico da transição para se reunir com seu time de economistas: Guilherme Mello, Nelson Barbosa, André Lara Resende e Persio Arida. O grupo teve uma longa reunião na terça-feira, 29.
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