Pedro S. Teixeira (FSP, 01/04/23) publicou interessante reportagem. A história dos mais de 15 bilhões de telefones celulares no mundo começou 50 anos atrás, em 3 de abril de 1973.
Martin Cooper, engenheiro eletrotécnico da então empresa de rádio automotivo Motorola, ligou para um rival que trabalhava no Bell Labs, da AT&T, para informar que havia vencido a corrida da telefonia móvel.
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“Estou ligando para você de um celular, mas um celular de verdade, pessoal, que cabe na mão”, disse Cooper para o engenheiro concorrente Joel Angel. Antes da reviravolta, a AT&T liderava essa disputa com seu sistema de transmissão de ondas celulares.
A noção de um celular que cabia na mão era diferente da atual. O primeiro DynaTAC pesava 1,4 kg e tinha 25 cm de comprimento. Um tijolo vazado de 19 cm de comprimento pesa em média 2,2 kg. O próprio Cooper, hoje com 94 anos, disse em entrevista à AFP na quinta-feira (30) que era impossível segurar o aparelho por mais de 25 minutos —o tempo que durava a bateria do dispositivo.
Ainda assim, Cooper liberou os telefones dos carros. Os aparelhos da AT&T ficavam acoplados a automóveis.
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Para colocar o primeiro celular no mercado, a Motorola levou mais dez anos. Apenas em 1983, começou a vender o DynaTAC 8000x, por US$ 5.000 (US$ 15,4 mil em valores atuais, ou R$ 78 mil). Isso porque precisou desenvolver, com US$ 100 milhões, um sistema analógico de transmissão de rádio capaz de suportar a nova clientela, também chamado de DynaTAC.
A noção do que era um celular mudou ao longo dessa metade de século. Aparelhos começaram a tocar faixas em mp3, enviar emails, acessar navegadores de internet e baixar aplicativos. Os preços também baixaram. Nos Estados Unido, um iPhone 14 Pro custa a partir de US$ 999 (cerca de R$ 5.100).
A última revolução dos aparelhos telefônicos veio com o design minimalista do iPhone 2G da Apple, lançado em 2007. O feito consolidou a já grande fama do empresário Steve Jobs. A funcionalidade de multitouch, que permite selecionar dois pontos da tela ao mesmo tempo com os dedos, garante a experiência de uso de dispositivos móveis à qual estamos acostumados hoje.
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Em entrevista ao veículo especializado em tecnologia Motherboard, dez anos atrás, Martin Cooper foi além. O engenheiro que idealizou o primeiro telefone móvel pensou no futuro da tecnologia como um chip implantado atrás da orelha, com acesso a uma rede de computadores. “Seria um telefone por voz em estado ótimo.”
“O conceito de aplicativos está todo errado. O ideal seria ter uma inteligência artificial capaz de atender aos nossos pedidos, idealmente mais inteligente do que nós. Seria um servo portátil”, disse o criador do celular, bem antes de a OpenAI lançar o ChatGPT, que tem impressionado as pessoas por suas capacidades textuais.
Na conversa de quinta-feira com a AFP, Cooper lamentou que as pessoas sejam consumidas pelas telas de seus smartphones. “Quando vejo alguém atravessando a rua olhando para o telefone, eu me sinto péssimo. Eles não estão pensando.”
Em excesso, o celular pode causar problemas de sono e de postura, irritabilidade e sedentarismo. Esses efeitos colaterais podem ser piores para crianças, que não têm as capacidades socioemocionais de um adulto, de acordo com a professora da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Evelyn Eisenstein.
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Segundo a pesquisa TIC Kids Online de 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 96% dos jovens de 9 a 17 anos já têm celular no Brasil.
Em junho de 2022, o país já tinha 242 milhões de smartphones, conforme dados da pesquisa “Uso de Tecnologias da Informação no Brasil”, da FGV (Fundação Getulio Vargas). O país tem mais de um aparelho por habitante desde 2016.
Evelyn Eisenstein recorda que, em 1990, quando chegaram os primeiros celulares no Brasil, o acesso era difícil. “Nós usávamos o aparelho nas emergências dos hospitais. Era um objeto pesado, que guardávamos em um cinto especial.”
Ela se refere ao Motorola PT-550, que logo ganhou o apelido “tijolão” no país. O modelo, contando a antena externa no topo, alcançava 22,8 cm de comprimento. O design do celular era inovador por sua dobradiça que protegia as teclas de poeira. No exterior, o aparelho custava US$ 3.000 e tinhas as funções agenda telefônica e identificador de chamada.
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Quem quisesse usar a linha de celular ainda tinha que desembolsar até US$ 20 mil para a estatal Telerj —e havia fila. O sistema de transmissão ainda era analógico, como aqueles dos Estados Unidos nos anos 1980.
O ex-deputado Eduardo Cunha, que presidiu a empresa de telefonia carioca entre 1991 e 1993, costuma dizer que liderou a implantação da telefonia móvel no Brasil. Essas primeiras linhas contavam com o prefixo “982”. A estatal depois foi privatizada, como as outras subsidiárias e veio a dar origem à companhia que conhecemos como Oi, hoje em sua segunda recuperação judicial.
A estatal paulista Telesp só veio trazer o serviço para o estado em 1993. Em 1997, em Brasília, começou a operar o primeiro serviço de celular digital no Brasil. Nos anos 2000, o país começou a adotar o sistema de padrão europeu, GSM.
Com o avanço da tecnologia, hoje, é possível comprar um chip pré-pago em qualquer banca de jornal. Alguns aparelhos voltaram a ser dobráveis, como o então inovador “tijolão”. Um aparelho de topo de linha, como o iPhone 14 Pro Max, custa a partir de R$ 9.499 na loja oficial da Apple.
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