domingo, 28 de agosto de 2022

Doutor em ciência política pela USP afirma que evangélicas com marido agressivo identificam-se com Michelle Bolsonaro


No último levantamento do PoderData, o presidente Jair Bolsonaro (PL) registrou 52% das intenções de voto no setor evangélico, contra 31% de Lula. Para o cientista político Vinícius do Valle, diretor do Observatório dos Evangélicos e doutor em ciência política pela USP, a atuação da primeira-dama Michelle Bolsonaro tem sido um dos trunfos da campanha do atual presidente nesse setor.

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O professor concedeu uma entrevista ao Poder360, e destacou que Michelle “fala a língua dos evangélicos”. “Muitas evangélicas se veem na posição da Michelle porque vivem uma experiência semelhante no seus lares: são casadas com homens que não vão à igreja ou até vão, mas têm uma postura muitas vezes violenta, muitas vezes agressiva”. Confira a resposta na íntegra:

Qual o papel da primeira-dama Michelle Bolsonaro nisso [votos evangélicos]? Há uma perspectiva de que ela ajude Bolsonaro a se converter?

Acredito que sim. Bolsonaro tem uma caracterização religiosa fluida. Foi batizado pelo Pastor Everaldo em Israel, mas é católico de formação. Frequenta cultos com a mulher dele, Michelle. Também vai para Aparecida e recebe uma imagem da santa [o que é condenado entre os evangélicos]. Consegue circular entre diferentes segmentos.

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E ele tem essa figura mais grosseira, mais enfática, que é vista por muitos evangélicos como uma postura que não reflete uma conduta cristã. A Michelle aparece ali, suavizando esse lado dele. Muitas evangélicas se veem na posição da Michelle porque também vivem uma experiência semelhante em seus lares: são casadas com homens que não vão à igreja ou vão, mas têm uma postura muitas vezes violenta, muitas vezes agressiva. Essas mulheres estão na igreja orando, tentando fazer de tudo para converter os seus maridos. Há uma identificação dessa mulher com a figura da Michelle.

Para além disso, a Michelle tem um ativo muito importante para esse grupo: o fato de ser realmente uma evangélica e falar a língua que essas pessoas estão acostumadas, com a prosódia, a performance que essas pessoas estão habituadas.

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Quando a Michele ela vai num culto e pega o microfone, os evangélicos dizem “eu me reconheço”. Isso é muito difícil de ser reproduzido por alguém que não é desse meio, sem soar artificial. É um pouco aquela frase que eu gosto de dizer que “quem é de verdade sabe quem é de mentira” [citação da música “Pontes Indestrutíveis, de Charlie Brown Jr.]. A Michelle realmente está nesse meio e fala como alguém que os evangélicos reconhecem. É um ativo eleitoral importante, cria uma conexão direta com esse público.

A Michelle resolveu entrar na campanha fazendo isso de forma muito intensa. As pessoas estão notando a primeira dama e se identificando com ela e com com o que ela diz dentro das igrejas. Isso explica, em parte, Bolsonaro ganhando terreno dentro desse segmento religioso.

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