domingo, 25 de setembro de 2022

Acusado de crimes chama ex-ministro do Bolsonaro de ‘corrupto, bandido e frouxo’


Acusado de cometer violência sexual contra doze mulheres, o empresário Thiago Brennand Fernandes Vieira, de 42 anos, atualmente no exterior, é um homem perigoso. Não só por seu comportamento agressivo e criminoso com o sexo oposto, mas também pelo apreço por armas de uso restrito (tinha o chamado registro CAC) e pelas relações tumultuadas com o centro do poder e com o governo Bolsonaro. Herdeiro improdutivo de uma rede médico-hospitalar em Pernambuco, filhinho de papai e cada vez mais acuado pela Justiça, ele se dedica, desde Dubai ou de qualquer lugar onde esteja, a negar as denúncias de abusos que o atingem com empáfia e a desancar desafetos. Foi o que fez com o primo Jason Vieira, que enfrenta um câncer, e para quem, em uma obscura demonstração de crueldade, mandou um caixão de presente. Nos últimos dias, porém, com aparente conhecimento de causa, Brennand passou a acusar o ex-ministro do Turismo e sanfoneiro Gilson Machado, candidato ao Senado em Pernambuco, de corrupção quando exercia o cargo e a questionar seu caráter. Bolsonarista convicto, ele tem acesso a informações de altos círculos de influência. O empresário divulgou vídeos, gravações e prints de conversas que confirmam o vínculo com Machado e deu uma entrevista à ISTOÉ em que destila rancor contra o ex-amigo.

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“Você é frouxo, não segura a onda de ninguém, entendeu? É corrupto, vai meter a mão no dinheiro, só ajuda quem você acha que pode estar ali com você numa coisa legal”

Pelo material divulgado por Brennand se deduz que os dois tiveram um relacionamento próximo que envolvia troca de favores e possível tráfico de influência. Eram conhecidos de Recife, cidade de ambos, e trocavam fotos de acontecimentos políticos pelo WhatsApp durante algum tempo. Houve, porém, um desentendimento entre eles durante a pandemia, Brennand se sentiu usado e disse que o conterrâneo tentou se aproveitar dele (veja entrevista abaixo). “Usou meu nome, como um áudio do ex-ministro Bebianno deixa claro, me chamando de primo dele. Me pediu conselhos e me ligava de seis a oito vezes por dia.

Chegou a pedir que eu convidasse pessoas para ministérios”, conta o empresário. Em uma gravação de maio de 2020 que veio à tona nesta semana, ele chama o ex-ministro de “corrupto”, “frouxo”, “bandido” e o intimida dizendo que o pegaria “pelos cabelos”. Também sugere uma relação com Bolsonaro em uma fala recheada de palavrões, que levantam clima de chantagem. À imprensa, o atual candidato ao Senado pelo PL afirmou não ter “nenhuma ligação com esse cidadão”. Em um desenrolar do caso, Machado foi exposto em um novo áudio em que denomina o agora rival de “sociopata” e resume o episódio a uma “patifaria”. Ele nega as acusações e se defende: “Se esse cara estivesse me elogiando é que era um problema”. Em nota oficial, disse também que “as acusações infundadas não passam de um ataque político”.

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Depois de agredir brutalmente a modelo Alliny Helena Gomes, de 37 anos, em uma academia de ginástica em São Paulo porque ela resistiu às suas investidas, Brennand foi acusado por outras 11 mulheres que começarão a ser ouvidas pelo Ministério Público na segunda-feira, 26. As supostas vítimas relatam várias situações envolvendo o empresário como cárcere privado, sexo sem camisinha, agressões físicas e verbais, stalking (perseguição) e tatuagem forçada com as iniciais de seu nome, TFV. Os depoimentos das mulheres foram reunidos pelo escritório de advocacia Janjacomo e pelo projeto Justiceiras. A agressão a Alliny o transformou em réu na Justiça pelos crimes de lesão corporal e corrupção de menores – numa gravação ele incentiva o filho, menor de 18 anos, a ofender a vítima. O caso trouxe uma enxurrada de outras acusações e o perfil sombrio do empresário repercutiu. Nas redes sociais, ele ostentava sua coleção de armas – seu registro foi suspenso pelo Exército e, segundo relatos de testemunhas, ele persegue e ameaça mulheres que recusam suas abordagens pessoalmente ou pela internet. Há ainda questões de violência gratuita, como o caso de Vítor Machado, garçom que apanhou do bon-vivant em um condomínio de luxo, em São Paulo. O rapaz foi acusado de passar em alta velocidade com a moto na frente da casa do empresário, que se incomodou e o atingiu com socos.

A promotora Silvia Chakian, coordenadora do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência, e o promotor Josmar Tassignon Júnior, de Porto Feliz, lideram a investigação. As mulheres terão suas identidades resguardadas até a conclusão das apurações. Em nota, o MP-SP comunicou que as oitivas serão “sigilosas” e que, no momento, “os promotores preferem não se manifestar”. O mesmo informou o MP de Porto Feliz, uma vez que tudo “tramita sob segredo de Justiça”. No caso da tatuagem, trata-se de uma mulher de Porto Feliz (SP), que narra ter conhecido seu algoz pelas redes sociais. Ela conta que, em um dos encontros, ele passou a ser violento desferindo tapas na sua cabeça e no rosto. Alega também ter ficado em cárcere privado, de onde saiu após pedir ajuda para um irmão que acionou a polícia. Às autoridades, Brennand negou as acusações e foi favorecido por um depoimento do tatuador, que afirmou não ter visto agressão.

DEFESA O ex-ministro Gilson Machado nega as acusações, diz que são infundadas e chama Brennand de sociopata (Crédito:Alexandre Brum)


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Thiago Brennand é um herdeiro profissional, um dos cinco filhos do fundador de uma rede hospitalar de Recife que reúne alguns dos maiores hospitais da cidade, como o Santa Joana. Na sua árvore genealógica, aparecem o conhecido colecionador de arte Ricardo Brennand e o ceramista Francisco Brennand. Mas ele é rejeitado pela família. Na primeira semana de setembro, antes das primeiras denúncias ao MP, ele viajou para Dubai e é aguardado pela Justiça até sábado, 24, prazo final para que seja considerado fugitivo. Ele se diz vítima de uma história criada com “viés político”. “Não passa de um teatro e a maioria das acusações são falsas”. Para Alinny, o importante nesse processo é denunciar. Em carta enviada à reportagem, ela pede que ninguém se cale. “As imagens falam mais do que mil palavras. Nós mulheres temos o direito de falar ‘não’ e devemos ser respeitadas por isso”, diz. “Esse homem chegou até esse ponto, prejudicando a vida de várias pessoas só porque prega que com dinheiro e poder tudo se resolve, espalhando o medo. Pois, levanto minha voz e mostro o meu rosto para dizer que nem todos são corruptíveis e que a Justiça funciona nas mãos das pessoas certas”, conclui.

Manobra diversionista

Na última quarta-feira (21), o empresário Thiago Brennand procurou a ISTOÉ para pedir “direito de resposta”. No entanto, não para falar sobre as denúncias de estupro ou os supostos rituais de tatuagens nas vítimas. Seu desejo era se manifestar somente a respeito dos áudios em que ele aparece ameaçando e chantageando Gilson Machado, ex-ministro do Turismo. À reportagem, Brennand se disse indignado pelo caso ter repercutido. Em sua defesa, enviou prints de seu WhatApp que sustentariam sua versão de que ele pertencia, sim, ao círculo de Machado. Mais do que isso: era um conselheiro político do ex-ministro, que lhe enviava fotos de sua rotina no gabinete e agradecimentos pelos pitacos do colega. 

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Confira:

Qual era sua relação com Gilson Machado? Era uma troca de favores?
Ele se apresentou a mim num clube de tênis e pediu ajuda, queria fundar o Patriotas. Apesar de eu sempre tentar contribuir da melhor maneira para o Brasil – País em que não moro há mais de 25 anos – não aceito contrato público, cargo público e nenhum tipo de verba pública. Ajudei ele a chegar aonde está, como você pode ver nos prints de tela: ele me mandando fotos dizendo que seguiu meu conselho com o General Heleno. Ele me mandou um vídeo agradecendo, de dentro do gabinete dele, com a bandeira do Brasil atrás. E agora soltaram um áudio em que ele me fez ataques virulentos, me classificando como um denunciado. O fato de ser denunciado não deveria ser usado contra ninguém. Nunca fui condenado. E se denunciado fosse algum tipo de problema, ninguém concorria à presidência da República. Acho que ele foi covarde e oportunista porque está concorrendo a um cargo eletivo. 

(...)

(Da Isto É)

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