O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, peça central
da Lava Jato, avalia que Sergio Moro trouxe em seu depoimento elementos
que justificam a abertura de um processo de impeachment contra Jair
Bolsonaro. "O presidente radicalizou num sentido que só pode significar
que ele está imbuído de má intenção, que é o poder político tomar
conhecimento de informações de investigações criminais", disse ele, em entrevista
ao jornalista Thiago Herdy, do Globo.
"Crime de responsabilidade, não
tenho dúvida. O fato de querer tomar conhecimento, de forma irregular,
de informações sigilosas de inquéritos que tramitam em outro poder, para
tomar atitudes em relação a beneficiar seus filhos, me parece um crime
de responsabilidade claro", disse ainda.
Lima também critica a atuação de Bolsonaro diante da pandemia. "Ele
tem poucas informações, mas as que são confiáveis, ele aposta
politicamente contra isso. Quer ganhar politicamente, mas se estiver
errado, o risco são milhares de pessoas morrerem nas portas de
hospitais. É inadmissível", afirma Lima, que diz ter votado em
Bolsonaro, mas não aposta no seu afastamento.
"Tenho a impressão de que vá acontecer uma acomodação anti-Lava-Jato.
De repente eles consigam enquadrar Bolsonaro. Sem uma parte
significativa da população que o apoiava, só lhe resta mesmo se submeter
ao centrão, algo que ele já começa a fazer. Parecia estar recebendo com
mais facilidade investigados da Lava-Jato e do mensalão que o próprio
Moro, surpreendido pela mudança na PF", disse ainda Lima.
Segundo ele, Moro será político. "Ele nunca quis ir para a política. Mas
está sendo empurrado, porque o que pode ser hoje? Político, candidato a
vice, talvez senador, algo do tipo. Pode ser advogado, mas é pouco
provável. Seria uma alternativa complementar, mas o que resta para uma
pessoa com a projeção pública de Moro?", questiona.
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