Esta é uma boa metáfora: jornalistas colocados numa sala no subsolo, sem janelas e longe do plenário. Metáfora do que fez boa parte da imprensa tradicional, com exceções nesse ou naquele ponto, desde a campanha de 2018. Quem a pôs na sala aviltante não foi Arthur Lira, mas ela própria.
O Centrão avançou na Câmara e no Senado, sem que a indignação jornalística aumentasse na mesma proporção. Os acordões do Centrão com Silvério dos Reis Bolsonaro foram tratados, no mais das vezes, como assunto trivial por repórteres, analistas e editorialistas, como se Rodrigo Maia — o Botafogo, senhores — fosse capaz de fazer frente ao monstro que ele também ajudou a criar. A maior preocupação era registrar as falas delinquentemente diversionistas do traidor da Pátria, sobre a pandemia. Enquanto tudo dava errado para o país, a coisa dava certo para os suspeitos habituais.
Jornalistas de grandes redações até aceitaram jantar no apartamento funcional do réu Arthur Lira, no início da campanha dele à presidência da Câmara, para tê-lo como fonte. Toparam ir ao subsolo. Quando se viu, era tarde demais. Quem se afastou da sua verdadeira tarefa no plenário da Câmara, portanto, foi a própria imprensa.
Subsolo, sem janelas e longe do plenário: ao réu Arthur Lira coube apenas fazer a metáfora de uma culpa que não é dele. Arthur Lira não vale nada, mas nunca disse que valia. Ele cumpre o seu papel.
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