o mercado conta com a possibilidade de Paulo Guedes sair do cargo? É sempre uma distribuição de probabilidades. A gente não acredita muito em: ‘o que vai acontecer’. Ninguém sabe. É uma distribuição de vários cenários possíveis e cada um desses cenários tem uma probabilidade associada. A saída do Paulo me parece provável? Não. Eu acho que ela ficou um pouco mais possível.
Então, esse cenário, que era de baixíssima probabilidade, para mim, tem baixa probabilidade ainda, mas ele ganhou alguns percentuais aí nessa aferição de probabilidade. E por que eu acho que ele tem baixa probabilidade? Primeiro, porque há uma proximidade pessoal entre os dois. O Paulo fica por causa do senso de responsabilidade com o país.
Ele sabe que esse risco seria trágico, uma real argentinização do Brasil. Ele é uma espécie de cão de guarda de grandes besteiras. Ele barrava as pequenas besteiras, coisa que agora já não está conseguindo mais. Mas eu acho que a figura do Paulo impede, de algum modo, a grande guinada rumo ao intervencionismo ou ao choque de regime. Impede que se dê o abandono completo da agenda liberal, do fiscalismo. O Paulo sabe que o Brasil explode amanhã se ele pedir demissão. Ele virou prisioneiro. Não é que eu acho que ele vá entregar muita coisa. Acho que até ele mesmo sabe: ‘eu fui vencido, mas estou aqui’. Acho que ele era um atacante e virou um goleiro. Para mim, ele está ali para evitar a explosão deste país.
A tendência não é piorar à medida que se aproximam as eleições, porque Bolsonaro vai querer se reeleger e, para isso, deve continuar fazendo manifestação populista? Esse, sem dúvida, é um risco. Eu, por outro lado, tenho uma visão um pouco diferente desse processo. Eu acho que a chance de ele perder a eleição aumentou de sexta-feira para cá.
Acho que, se ele der uma guinada dessa, ele perde, porque ele foi eleito com o apoio de parte do empresariado e do mercado financeiro, que, de algum modo, até porque não tinha alternativas também, acabou, em alguma instância, acreditando em um liberalismo ao menos parcial desse governo.
No momento em que ele faz o que fez, ele perdeu o apoio de parte do empresariado e do mercado financeiro. Então, fica cada vez mais dentro de uma ala ideológica e de uma camada que vai ser diretamente beneficiada por esse populismo. Mas a percepção de risco do brasileiro não é o CDS [termômetro da confiança dos investidores]. A percepção de risco do brasileiro é a taxa de câmbio. E o dólar está subindo. Se ele der uma guinada adicional nessa direção, esse dólar explode. Quanto vai ser o dólar? R$ 7? R$ 8? Isso gera inflação e destrói as camadas mais baixas.
Aí vai ter que subir taxa de juro no ano que vem, efeito inflacionário galopante. O Banco Central, cada vez mais autônomo e independente, deve subir bastante taxa de juro, e a gente vai chegar na cara da eleição com uma enorme depressão econômica.
Então, parece eleitoreira essa decisão, mas ela acaba dando a volta. Dólar dispara, inflação dispara, juro dispara, economia mergulha. E como é que você é eleito? Sem apoio do mercado financeiro, sem apoio do mercado de capitais. O Lula se elegeu quando ele veio para o centro. Os discursos muito populistas e muito radicais dos dois lados não me parecem ter chances tão grandes. O populismo talvez faça ele perder a eleição, porque a inflação vai galopar. Acho bem complicado.
(…)
PS: De acordo com o jornalista Lauro Jardim no Globo em outubro de 2020, dona de 50% do Antagonista desde 2016, a Empiricus saiu da sociedade através de uma troca de ações entre os sócios. A participação da Empiricus no site de extrema direita ficou com o sócio Caio Mesquita. Os outros 50% do Antagonista continuaram com Diogo Mainardi e Mario Sabino, sob uma companhia chamada Acta Holding.
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