A sessão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que concedeu, na terça 9, ao ex-presidente Lula o acesso às mensagens da Lava-Jato apreendidas na Operação Spoofing, em 2019, teve um espectador atento. Na noite anterior, a ansiedade impediu que ele pregasse os olhos na casa onde mora com a avó, em Araraquara, a 250 quilômetros de São Paulo. No fim do dia, Walter Delgatti Neto, 31 anos, o hacker responsável por vazar as conversas que deixaram em má situação a força-tarefa de Curitiba e o então juiz Sergio Moro, comemorou: por 4 votos a 1, os ministros decidiram a favor do petista.
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A tensão se justificava, ao menos na sua óptica particular: para ele, a decisão conta pontos a favor da autenticidade do material e pode ajudar em sua defesa. Delgatti responde, com outros três réus, por organização criminosa, lavagem de dinheiro e crimes cibernéticos. Por isso, um dos momentos que mais celebrou foi o voto de Gilmar Mendes. “Se os diálogos não existiram, os hackers de Araraquara são uns notáveis ficcionistas, já que escreveram tudo isso”, disse. Solto pela Justiça em outubro de 2020, após um ano e dois meses de prisão provisória, ele tem a vida restrita, mas ainda assim ostenta uma certa euforia e se vê como o “personagem principal” do crepúsculo da Lava-Jato.
Mas sua relação com a operação não foi sempre assim. Ele conta que era um admirador da investigação e revela que invadiu o Telegram de Deltan Dallagnol porque se identificou com o procurador após assistir a uma palestra numa universidade em Ribeirão Preto. Delgatti, estudante de direito — e já hacker —, diz que queria se informar sobre as investigações citadas e, ao entrar na conta, descobriu que o procurador não eliminava nenhum arquivo. “Eu era fã. Mas, assim que entendi a manipulação deles, eu me senti enganado. Vi que a Lava-Jato era mais política do que jurídica.”
Para ele, no entanto, os golpes sofridos pela operação ainda estão longe do fim. O conteúdo apreendido pela Polícia Federal ocupa mais de 7 terabytes e ainda é uma incógnita. Para se ter uma ideia, o que foi cedido por Delgatti ao site The Intercept Brasil somava 56 gigabytes, ou seja, menos de 1%. “Eu acredito que o material todo tem poder para anular toda a Lava-Jato, sem dúvida”, disse ele a VEJA, sem entrar em detalhes a repeito de quais possíveis bombas ainda estariam guardadas.
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