Geraldo Alckmin e Lula (Foto: Divulgação)
Brasil 2 Pontos - A política, como se sabe, não é o que se vê. Feita nos bastidores, em conversas fechadas, entre poucos escolhidos, o que chega ao grande público como surpresa é, no mais das vezes, o roteiro escrito antes da cena. Neste momento, quando a olho nu parece a caminho do isolamento dentro do PSDB de João Doria sob influência do DEM, o ex-governador Geraldo Alckmin está, sim, preparando seu pulo do gato.
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Com o partido que ajudou a fundar – orgulha-se de ter a ficha de filiado número 7 – sendo entregue de bandeja por Doria aos demistas representados na figura do vice Rodrigo Garcia, Alckmin estuda se mudar com armas e bagagens para o PSB de seu parceiro Márcio França. O convite vem do alto escalão. Não apenas França, mas todas as lideranças nacionais da legenda, a começar do presidente Carlos Siqueira, e também o governador Renato Casagrande (ES), o ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio e outros, atuam agora para agregar ao partido a representatividade de Alckmin em São Paulo.
Nesse movimento, o PSB acredita em se fortalecer no maior estado do País e, por último mas não menos importante, ampliar seu leque de possibilidades para oferecer a Lula, na aliança que vai sendo tricotada para 2022, um nome que não desagradaria à centro-esquerda que compõe as bases da própria legenda e, como imagem nacional, é uma face sem retoques do centro que o PT corteja. Sim, está-se falando, neste circuito de bastidores, numa chapa Lula-Alckmin para a disputa presidencial. Um jogo, dizem seus articuladores, de ganha-ganha. Enquanto sairia com tranquilidade pelo Nordeste para retomar as bases históricas que lhe garantiram suas duas vitórias nas presidenciais, Lula teria na retaguarda no Sul e Sudeste, com o sempre afável ex-governador, um interlocutor direto com a classe média e, também, com o empresariado, além de forte cabo eleitoral no interior do estado, onde venceu sua última eleição para o governo, em 2014, com derrota em apenas um município. Faz algum tempo, ok, mas não é pouco, bem ao contrário.
Projeção para São Paulo
Uma aliança preferencial do PT com o PSB no plano nacional teria como desdobramento natural, na corrida para o governo de São Paulo, uma composição entre França e o ex-prefeito Fernando Haddad, com um encabeçando a chapa para o Executivo estadual e o outro ao Senado. Não se fala em definir, agora, qual deles iria para qual posição. Com o passar do tempo, o processo político dirá. Tudo fica mais facilitado quando se conhece a posição de Lula a respeito da política de alianças do PT nesta etapa de sua história. Em oposição ao sectarismo de antes, o experiente líder prega agora o pragmatismo, determinando que acordos estaduais devem ser feitos à luz do interesse maior da legenda, exatamente a de ganhar, com ele próprio, a eleição para presidente da República. Para tanto, Lula sabe que precisa de aliados e, para fazê-los, abrir mão da velha receita de o PT liderar chapas para tudo em todos os lugares. Esse dogma já era. A cereja no bolo está no fato de que, não é mais sonho de verão, Lula está apto a concorrer e já se consolida em todas as pesquisas como favorito sobre Bolsonaro.
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Um cimento para firmar a aproximação entre petistas e socialistas – que, de resto, saíram afastados da eleição presidencial de 2018, quando França, candidato a governador, evitou apoio claro a Haddad em sua tentativa de ser presidente, e ambos perderam – é, por mais paradoxal que pareça, o MDB paulista. O partido entraria na dança para deixar Doria e o PSDB sozinhos no salão com o DEM, isolando-os no canto direito. O centro e a esquerda da festa democrática estariam preenchidos por PT-PSB-MDB, achegando-se também legendas anti-Doria como o PTB e outras. O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, está colocado na intrincada negociação que se inicia como o nome do partido para o cargo de vice-governador tanto com Haddad como com França na cabeça da chapa. O flerte ao MDB envolve o ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro dos governos FHC e Lula Nelson Jobim. Os almoços que eles têm compartilhado no elegante restaurante Parigi, em São Paulo, incluem o assunto nos pratos de ambos.
A ex-prefeita Marta Suplicy, atual secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, faz as vezes de coringa nesse jogo. Amiga de Lula e, também, do ex-presidente José Sarney, além de ter ótimo diálogo com Temer, Jobim e Baleia, ela não cogita ocupar qualquer vaga para cargo eletivo em 2022, concentrada em seu papel na administração do prefeito Bruno Covas. Assim como o alcaide paulistano, por outro lado, Marta está empenhada na formação de uma frente ampla contra Bolsonaro. Por esta razão, fixa-se como interlocutora privilegiada de todas as peças deste quebra-cabeças. Que, de resto, ganha em inteligência, charme e elegância.
Se a fieira PT/PSB/MDB for montada, torna-se mais real a hipótese de o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab juntar-se ao cordão. Com Rodrigo Garcia, que foi seu pupilo, ele não se dá mais. O atual vice de Doria deixou Kassab às feras quando o experiente político foi forçado a deixar o cargo de secretário da Casa Civil, para defender-se de acusações na Justiça. O afastamento já vinha de antes, quando Garcia não seguiu com Kassab na montagem do PSD, preferindo manter-se sob o guarda-chuva do DEM. O ex-prefeito tem marcados em seu caderninho de vinganças que se comem frias as duas faltas do político ao qual muito ensinou. As movimentações de Alckmin e do PSB, em franca aproximação com o PT a nível nacional, podem trazer uma grande mudança no cenário político paulista, com um definitivo enfraquecimento do PSDB. O partido dos tucanos governa o estado mais rico do Brasil há 30 anos.
Trazendo os resultados da articulação para o terreno paulista, ela soa ainda melhor aos envolvidos, e especialmente ao próprio Alckmin. Traído do primeiro ao quinto por Doria, até porque, ressalve-se, ignorou os alertas sobre a traição que lhe chegaram do ex-presidente FHC ao porteiro do Palácio dos Bandeirantes, Alckmin foi sendo asfixiado com requintes de crueldade pela criatura que levou pela mão à Prefeitura de São Paulo, na eleição de 2016. Como lhe é peculiar, Doria não retribui. Extirpou Alckmin de seus planos e tomou dele o partido tão logo se assenhorou das mordomias e do poder efetivo que o governo paulista concede. Se pudesse voltar no tempo, é pule de dez que o então poderoso governador mudaria sua escolha, feita com o intuito de rejuvenescer e arejar o PSDB paulista. Doria, ao contrário, arrasta a legenda junto com sua queda de popularidade e ainda a direciona para o colo do DEM, que nunca teve voto em São Paulo e apresenta, no vice Garcia, um político muito mais famoso por seu silêncio do que por suas ideias.
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