domingo, 25 de abril de 2021

Com o Bolsonaro e o Paulo Guedes, o Real derrete frente ao Dólar


Entre os resultados pífios da gestão Paulo Guedes para a economia, poucos chamam tanto a atenção como a depreciação cambial. Para o consumidor brasileiro, a desvalorização do real e a alta do dólar trouxeram um cenário de preços muito mais caros, substituição de produtos e cortes nas despesas. O cenário, é claro, também afetou o comércio, os serviços e a indústria que depende de insumos do exterior — das fábricas de computadores e automóveis aos produtores de alimentos.

Em 3 de janeiro de 2020, um dólar valia R$ 4,02. No último dia 20, era negociado a R$ 5,55 — uma desvalorização de 37,4% no período. Entre as moedas dos países emergentes, apenas o peso argentino no câmbio oficial teve desvalorização maior, de 51,02% — e a Argentina está em moratória. O real teve desempenho pior até do que a lira turca, que tombou 23% frente ao dólar. E essa queda chega ao bolso do brasileiro, pois impacta toda a cadeia de suprimentos, incluindo os combustíveis, que ficam mais caros. “Os preços subiram muito: carne, arroz, feijão e óleo”, diz a cabeleireira Eliete Matos, que vive no centro de São Paulo. “Passei a comprar marcas diferentes de outros produtos, mais em conta”, diz. Itens importados, como azeite de oliva, bacalhau, salmão e vinhos, subiram pelo menos 15% no varejo.

O executivo de uma grande montadora diz que a desvalorização do real teve impacto nos negócios, gerando “uma inflação de custos”. Segundo ele, as 15 montadoras que têm fábricas no Brasil importam entre 5% e 40% dos insumos. “O poder de compra das famílias da classe média sofreu um forte impacto”, diz o empresário Diogo Rodrigues, da Yes Intercâmbio. A empresa de Curitiba, especializada em convênios de intercâmbio universitário e de pós-graduação no exterior, trocou parcerias com universidades americanas por canadenses.

O consumidor foi afetado não apenas pela desvalorização do real, mas também por outro efeito, este mundial, que derivou da pandemia: o aumento dos preços dos produtos em dólares, dos microchips aos alimentos. “Isso aconteceu porque houve um aumento na demanda por bens no mundo inteiro. Afinal, as pessoas ficam mais em casa e precisam repor os produtos e estoques,” diz Lívio Ribeiro, economista e pesquisador da área de Economia Aplicada do IBRE-FGV. Segundo ele, quando ocorrer a “normalização sanitária”, haverá o aumento nos preços dos serviços — mas esta é uma etapa posterior, que não aconteceu ainda nem nos EUA e Europa. “Nos países mais desenvolvidos, a normalização deverá ocorrer até o final do ano. Já no Brasil, o cenário é imprevisível”, afirma.


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