Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, que se beneficiou no ano passado de um superávit de US$ 61,8 bilhões. Isso explica o interesse de companhias como JBS, Marfrig, Vale e Suzano em integrar a comitiva. Os chineses têm forte presença no setor de eletricidade brasileiro e estão expandindo sua participação na indústria automobilística. A BYD, líder em carros elétricos, estuda adquirir a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA), o que pode ser anunciado durante a viagem, e a Great Wall comprou no ano passado a antiga fábrica da Mercedez-Benz em Iracemápolis (SP), com investimento previsto de US$ 10 bilhões. No sentido inverso, a Embraer gostaria de vender aos chineses seu mais sofisticado avião comercial, o jato de médio porte 190 E2.
O petista quer retornar o protagonismo histórico brasileiro na América Latina, o que ajuda os chineses. O brasileiro também deve retomar seu papel de liderança do “Sul global”, reconsquistando seu lugar como player internacional. O grande responsável por esse “revival” no cenário externo é o chanceler Mauro Vieira, que voltou ao cargo que ocupou no governo Dilma Rousseff. O diplomata fluminense manteve contato próximo com o petista na época amarga da prisão em Curitiba, foi relegado a uma representação secundária no governo Bolsonaro (a embaixada na Croácia), mas voltou para a cadeira mais cobiçada do Itamaraty em janeiro. Foi escolhido por Lula logo depois da eleição, coroando uma carreira em que ocupou alguns dos postos mais importantes da diplomacia brasileira: as embaixadas nos EUA e na Argentina e a representação na ONU.
O papel de Lula na disputa econômica entre China e EUA certamente é estratégico para as duas superpotências. Mais do que isso, serão importantes os sinais que o brasileiro pode emitir sobre a grande questão geopolítica atual, a invasão russa na Ucrânia. Xi Jinping recebe Lula uma semana depois de visitar Moscou, quando deu uma demonstração de apoio a Vladimir Putin. O chinês usa a proximidade com o presidente russo para minar a influência global dos EUA, maior apoiador da Ucrânia. Esboçou um plano de paz, rejeitado por americanos e europeus por ser considerado favorável aos interesses russos.
A diplomacia americana teme que o Brasil se volte para um projeto semelhante. Antes de assumir, Lula esboçou uma condenação ao presidente Volodymyr Zelensky. Depois da posse, moderou o tom e condenou a invasão russa. Ao lado de um espantado Olaf Scholz, Lula chegou a dizer que “quando um não quer, dois não brigam” (a Alemanha mudou sua política histórica de não intervenção para apoiar os ucranianos). Em Brasília, chegou-se a cogitar a criação de um grupo de países não envolvidos na guerra para tentar intermediar uma solução. Hoje, Mauro Vieira relativiza a iniciativa brasileira e diz que Lula nem tem a pretensão de liderar um acordo de paz.
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