sábado, 25 de março de 2023

Com Lula, o Brasil está de volta ao cenário internacional como protagonista


Lula priorizou duas marcas para seu terceiro mandato. Primeiro, ajudar os pobres, responsáveis em grande parte por sua volta ao poder. Para isso, já relançou os principais programas sociais de suas gestões anteriores. O outro símbolo que desejava retomar é de um líder global, capaz de transitar entre os principais chefes de Estado e influir nos rumos da política internacional. Enquanto a primeira meta depende da economia e de ações que vão demorar meses ou anos para se concretizar, o segundo objetivo foi alcançado num prazo recorde e de forma até surpreendente. Desde que venceu as eleições, o petista já se encontrou pessoalmente com os principais dirigentes globais e vai coroar esse esforço inicial à frente de uma megacomitiva, recorde em dimensão e ambição, em direção à China, para estreitar os laços com a nova potência rival dos EUA.

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Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, que se beneficiou no ano passado de um superávit de US$ 61,8 bilhões. Isso explica o interesse de companhias como JBS, Marfrig, Vale e Suzano em integrar a comitiva. Os chineses têm forte presença no setor de eletricidade brasileiro e estão expandindo sua participação na indústria automobilística. A BYD, líder em carros elétricos, estuda adquirir a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA), o que pode ser anunciado durante a viagem, e a Great Wall comprou no ano passado a antiga fábrica da Mercedez-Benz em Iracemápolis (SP), com investimento previsto de US$ 10 bilhões. No sentido inverso, a Embraer gostaria de vender aos chineses seu mais sofisticado avião comercial, o jato de médio porte 190 E2.

O petista quer retornar o protagonismo histórico brasileiro na América Latina, o que ajuda os chineses. O brasileiro também deve retomar seu papel de liderança do “Sul global”, reconsquistando seu lugar como player internacional. O grande responsável por esse “revival” no cenário externo é o chanceler Mauro Vieira, que voltou ao cargo que ocupou no governo Dilma Rousseff. O diplomata fluminense manteve contato próximo com o petista na época amarga da prisão em Curitiba, foi relegado a uma representação secundária no governo Bolsonaro (a embaixada na Croácia), mas voltou para a cadeira mais cobiçada do Itamaraty em janeiro. Foi escolhido por Lula logo depois da eleição, coroando uma carreira em que ocupou alguns dos postos mais importantes da diplomacia brasileira: as embaixadas nos EUA e na Argentina e a representação na ONU.

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O papel de Lula na disputa econômica entre China e EUA certamente é estratégico para as duas superpotências. Mais do que isso, serão importantes os sinais que o brasileiro pode emitir sobre a grande questão geopolítica atual, a invasão russa na Ucrânia. Xi Jinping recebe Lula uma semana depois de visitar Moscou, quando deu uma demonstração de apoio a Vladimir Putin. O chinês usa a proximidade com o presidente russo para minar a influência global dos EUA, maior apoiador da Ucrânia. Esboçou um plano de paz, rejeitado por americanos e europeus por ser considerado favorável aos interesses russos. 

A diplomacia americana teme que o Brasil se volte para um projeto semelhante. Antes de assumir, Lula esboçou uma condenação ao presidente Volodymyr Zelensky. Depois da posse, moderou o tom e condenou a invasão russa. Ao lado de um espantado Olaf Scholz, Lula chegou a dizer que “quando um não quer, dois não brigam” (a Alemanha mudou sua política histórica de não intervenção para apoiar os ucranianos). Em Brasília, chegou-se a cogitar a criação de um grupo de países não envolvidos na guerra para tentar intermediar uma solução. Hoje, Mauro Vieira relativiza a iniciativa brasileira e diz que Lula nem tem a pretensão de liderar um acordo de paz.

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