sábado, 15 de maio de 2021

Um psicopata dirigindo o Brasil

 


“O homem que se acha Napoleão tem sempre o mesmo perfil. Autoritário, caprichoso, colérico. Imperial. É o senhor do Universo. Seu poder é ilimitado. Tudo deve se curvar à sua vontade. Sua expressão é grave, não cessa de dar ordens, exige a devoção de acompanhantes que de maneira geral ele despreza.” Essa não é uma definição laudatória do general que mudou a face da Europa. São palavras da francesa Laure Murat em sua história da loucura. E cabem para entender Jair Bolsonaro, 200 anos depois, que em Brasília também exibe delírios de grandeza.

Napolião coroou a si mesmo, já que não reconhecia a autoridade de ninguém. São imagens que lembram Bolsonaro. O presidente deu nova mostra de ambição desmedida e desatino na última semana. Disse que já estava com um decreto pronto para ignorar a autoridade de governadores e prefeitos na condução da pandemia e governar sem o constrangimento imposto pelo STF. É mais uma ameaça contra a democracia, desta vez mais explícita. Não foi a única manifestação delirante. Na semana em que o País chegou a 430 mil mortos, o mandatário se sentiu à vontade para fazer um churrasco com amigos e exibir-se de moto, sem capacete. Já estimula novas manifestações de apoiadores para se contrapor à comissão que ameaça seu governo no Congresso. Mais uma vez lançou suspeitas sobre o pleito de 2022. E emendou: “Só Deus me tira daqui”.

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Juristas, psiquiatras e parlamentares há muito tempo apontam a incapacidade do mandatário para lidar com situações complexas. O psiquiatra forense Guido Palomba, ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, vai ainda mais longe e associa o presidente claramente, por diversas evidências, à psicopatia. Esse transtorno de personalidade, na opinião do especialista, descreve vários comportamentos do mandatário. O mais gritante é a falta de empatia, estampada pelas inúmeras manifestações em que mostrou indiferença pelas vítimas da tragédia, chocando o País. Outro aspecto é a vaidade exagerada, que faz o portador desse desvio de comportamento não tolerar contrariedades. Outra característica é a agressividade, que o torna mal-educado e provocador. 

A “inteligência limítrofe” faz o psicopata praticar atos bizarros, por teimosia. Também não reconhece erros. Se volta atrás, é por estratégia momentânea. Na opinião do psiquiatra, o psicopata não distingue o certo do errado quando ocupa cargo público. Só lhe interessa o poder, daí o fato de tornar-se tirano. Já em funções militares, desobedece e desacata a autoridade. É rancoroso e vingativo. Conforme os manuais, não se preocupa nem demonstra responsabilidade com o futuro daqueles a quem deve cuidar.

Essas definições se encaixam de forma rigorosa ao comportamento presidencial, independentemente de um diagnóstico preciso a ser chancelado por especialistas. É o que defende há mais de um ano o jurista Miguel Reale Júnior, quando o presidente começou a participar de manifestações contra o Congresso e o STF causando aglomerações. Na época, Reale já dizia que o presidente deveria se submeter a uma junta médica para saber se está em seu pleno juízo e o Ministério Público, requerer um exame de sanidade mental para o exercício da profissão.


Ex-aliados

O espanto com as reações estapafúrdias de Bolsonaro também mobilizou o deputado Fausto Pinato, presidente da Frente Parlamentar Brasil-China. “Penso que estamos diante de um caso em que recomenda-se a interdição civil para tratamento médico”, afirmou ao saber que o presidente tinha responsabilizado a China pela pandemia por causa de uma “guerra biológica”. Isso quando a CPI já colhia os primeiros depoimentos e a falta de imunizantes angustiava a população. Essa é mesma opinião de ex-aliados que conhecem o presidente a fundo. Para o deputado Júnior Bozzella (PSL), “assim como um psicopata, ele parece normal. Apenas um pouco excêntrico, mas de certa forma cativante. Só que essa casca esconde um Bolsonaro cruel, manipulador, indiferente ao próximo e, por isso, perigoso”. 


Outra ex-apoiadora, Joice Hasselmann aponta sua “gigantesca mania de perseguição” e o “narcisismo exagerado”. Ela diz que é procurada por psiquiatras há meses para traçar o perfil do mandatário. Por isso, propôs uma PEC da Insanidade destinada a destituir qualquer presidente por “incapacidade mental”. É inspirada na 25ª Emenda da Constituição dos EUA, que prevê a transferência de poder para o vice-presidente no caso de doença física ou mental

“Seja pelos crimes de responsabilidade, seja por sua suposta condição de insanidade física ou mental, um eventual processo de impeachment tem natureza política e cabe aos atores políticos assumirem a decisão. Não é um atestado médico que vai resolver isso”, contrapõe-se Carlos Toledo, procurador e professor de Direito Constitucional da Universidade São Judas Tadeu. 

Mas outros discordam. Paulo Machado Guimarães, da ADJC, associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, afirma que a entidade acionou o Ministério Público Federal para a interdição do presidente. “Pela sua conduta, ele não tem condição de continuar no cargo por deficiência na tomada de decisões.”


Atualmente, esse mal do presidente parece criar raízes, inspirar fanáticos e contaminar as redes sociais no Brasil, terreno fértil para alucinações. Bolsonaro não atua mais no plano real ao se embriagar com delírios de grandeza, brigar com a realidade e prever sua eternização no momento em que o governo esfarela. Ele não está em busca de uma causa, é o sintoma de uma moléstia.

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