quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Médica contesta o Bolsonaro e afirma que tomar vacina é uma decisão coletiva

Pediatra do SBIm Isabella Ballalaipresidente Jair Bolsonaro (sem partido) provocou nova polêmica ao afirmar que ninguém será obrigado a receber a vacina contra a Covid-19. “A vacina, ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, disse em resposta a uma apoiadora no jardim do Palácio da Alvorado, na segunda-feira (31/8). No dia seguinte, a fala foi reproduzida em suas redes sociais pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.


Em nota, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) afirmou que entende ser “dever das autoridades públicas e dos profissionais da saúde conscientizar a população acerca da importância da vacinação, independentemente da obrigatoriedade, sob pena de vivermos retrocessos como a volta do sarampo devido às baixas coberturas vacinais”.

Em entrevista ao site Metrópoles, a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm mostrou preocupação com o posicionamento do chefe do executivo.

A fala do presidente desestimula as pessoas a se imunizarem?
Eu não acredito que faça ninguém mudar de ideia, mas levanta uma discussão que pode levar a dúvidas e, quem sabe, fazer com que algumas pessoas entendam que tem alguma coisa perigosa nisso. Apesar da obrigatoriedade da vacina ser necessária em situações muito pontuais, trazer isso para discussão pode levar à insegurança, desinformação e preocupações que não existem.

Pesquisas mostram que 90% dos brasileiros questionados sobre a vacina da Covid-19 disseram que a tomariam. A gente não tem que estar preocupado se vai ser obrigatório ou não. A gente tem que estar preocupado em informar adequadamente a população, em garantir que os critérios técnicos e científicos não serão menosprezados pela urgência da vacinação e em esclarecer que é necessário esperar resultados para ter respostas.

Tomar a vacina é uma escolha pessoal?
É uma escolha coletiva. A decisão de se vacinar precisa passar não só pela intenção de se proteger, como também pela intenção de se atingir uma proteção coletiva.

O Estado pode intervir e obrigar que as pessoas sejam imunizadas?
O Brasil tem uma lei que diz que todos são obrigados a se vacinar. A vacinação de crianças e adolescentes no Brasil é direito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990) e a família que decidir não vacinar seus filhos tem previstas penalidades, inclusive multas. Em relação ao adulto, não existe penalidade.

A gente está em um país que é favorável à vacinação. Nunca houve uma preocupação em relação à penalidade do adulto, mas está previsto em documento de fevereiro de 2020, da Presidência, que uma das estratégias que podem ser adotadas contra a pandemia é a vacinação. Então, o governo pode obrigar as pessoas a se vacinarem.

Qual é o papel das vacinas para o controle de epidemias?
Existe um trabalho na África que serve de alerta para a gente: para cada criança que morre de Covid-19 na África, 84 morrem de doenças que poderiam ser prevenidas por vacinas.

Com o cenário da Covid-19, a gente vê que o isolamento é necessário, o medo de sair de casa e não entender que a vacina continua na rotina ou não ser informado sobre isso e achar que dá para postergar (a vacinação) tem feito com que as nossas coberturas atuais estejam em torno de 40 a 50% entre as crianças menores de 1 no.

É uma urgência que o Ministério já está trabalhando, no sentido de resgatar essas crianças. Em outubro tem campanha, mas a gente não pode esperar. É preciso levar as crianças para o posto com segurança.

Quais doenças foram controladas com vacinas no Brasil?
Todas as infecções para as quais a gente tem vacinas no calendário do SUS foram bem controladas. A meningite caiu em 70%; não temos poliomielite desde os anos 1970. Com cobertura de 40 a 50% para a pólio, o Brasil passa a estar em risco de ver um retorno da doença.

A rubéola congênita e o tétano neonatal estão eliminados. Até pouco tempo o sarampo era uma doença suprimida, mas a cobertura vacinal caiu.

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