Era 9 de dezembro de 2022 quando Marcos do Val, convidado por Bolsonaro e Silveira, compareceu ao Palácio da Alvorada - em um esquema digno de roteiro de filme, que incluiu um carro da segurança da Presidência para evitar que Do Val e Silveira fossem vistos entrando no palácio - para uma reunião. Lá, foi contado a ele o plano para prender o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
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"Alguém de confiança do presidente se aproximaria do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, devidamente equipado para gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que servisse como argumento para prendê-lo. Esse seria o estopim que desencadearia uma série de medidas que provavelmente atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes desde a redemocratização. Na reunião do Alvorada, Bolsonaro descreveu os detalhes dessa operação", relata a reportagem.
Três dias depois, no dia 12 de dezembro, do Val entrou em contato com Moraes pedindo um encontro presencial. “Dia emblemático”, escreveu o parlamentar ao ministro, se referindo àquele dia em que o presidente Lula (PT) havia sido diplomado pelo TSE e, à tarde, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal. "Precisava falar como foi o encontro com o PR [presidente] e o DS [Daniel Silveira]", escreveu Do Val, dizendo que ambos teriam o convidado para "uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”. O ministro agendou o encontro para dali a dois dias.
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No dia 14 de dezembro, quando o STF julgava a legalidade do orçamento secreto, Moraes foi ao encontro de Do Val no salão branco do tribunal, durante o intervalo da sessão. "A conversa foi rápida, durou apenas alguns minutos. O parlamentar narrou detalhes do encontro que teve com o presidente, da proposta indecorosa que recebeu e os objetivos abjetos do plano. Acostumado nos últimos tempos a lidar com as mais mirabolantes teorias da conspiração, Moraes fez um único comentário: 'Não acredito', disse em tom de espanto".
Bolsonaro disse a do Val que já tinha garantido o apoio do GSI à operação para gravar Moraes com os equipamentos de espionagem. No dia seguinte, por mensagem, Silveira disse ao senador que "a coisa toda era tão sigilosa que 'nem o Flávio saberá', se referindo ao filho do presidente, Flávio Bolsonaro. 'Estarei em QAP até o comando do 01 para irmos até lá', acrescentou. No jargão policial, QAP significa 'na escuta', de 'prontidão'. Por último, Silveira lembrou que 'o conteúdo' captado seria utilizado exclusivamente para pautar a 'ação' que já estaria 'desenhada e pronta para ser implementar'".
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"Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação", disse também Silveira.
Diante do silêncio do senador, o deputado afirmou que as “escutas usadas em operações especiais” já estavam à disposição para a ação, e reforçou: "se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil".
Após o encontro com Moraes e com medo de se meter em confusão, Do Val respondeu a Silveira: "irmão, vou declinar da missão". O então deputado assentiu: "entendo, obrigado".
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