O ex-deputado federal e ex-presidente nacional do PT, José Genoíno, em entrevista à TV 247, reclamou do posicionamento de alguns integrantes do partido que insistem na ideia de que o ex-presidente Lula precisa ser aposentado. Para Genoíno, este pensamento vai na linha dos interesses da classe dominante. Ele ainda refutou a teoria de que o PT é hoje refém de Lula, como disse o senador Jaques Wagner (PT-BA).
“Eu vivi a experiência institucional do Congresso Nacional, vivi a experiência do PT e eu acho que nós cometemos alguns erros. O PT defendia ter um pé na luta social e um pé na luta institucional. Quando nós ganhamos o governo nós ficamos só com o pé na luta institucional, e ao ficar na luta institucional nós fomos domesticados e golpeados preventivamente, e o Lula foi o centro desse golpe. Por isso que eu me revoltei e fiquei indignado com o que disseram sobre o Lula, principalmente quando parte de certos companheiros do PT. Dizer que o Lula ocupou espaço, que viraram refém do Lula, isso faz média com uma visão da classe dominante. Se existe isso na política, por que não existe nas outras coisas? Você vai dizer que o Chico Buarque, o Caetano Veloso, a Maria Bethânia, o Milton Nascimento, o Jorge Amado, o Sartre, os grandes escritores, artistas, pintores têm que ser aposentados? É a visão de que a política é menor. Para mim a política é uma atividade sublime, nobre, e os políticos não podem se aposentar”.
Genoíno ainda afirmou que o ex-presidente não pode ser utilizado pela esquerda como moeda de troca em negociações com aqueles que deram o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. “A classe dominante é especialista em liquidar lideranças. O Lula é um protagonista que a esquerda não pode colocar sua cabeça na bandeja dourada da negociação com a elite perversa que deu o golpe em 2016. Esse é um papel trágico que o PT não pode convalidar em hipótese nenhuma. A esquerda tem que ter dignidade, tem que ter lado”.
O ex-presidente do PT, rememorando seu próprio discurso de 2005, quando deixava a presidência do partido, falou também sobre o fato de a legenda ter alcançado o Palácio do Planalto e, neste momento, não ter aplicado reformas reestruturantes no Estado brasileiro. “Quando as forças progressistas passam pelo poder sem mudar a estrutura do Estado, elas ficam permanentemente expostas aos riscos de serem capturadas por ondas autoritárias, conservadoras e neoliberais. Nós chegamos ao poder e não mudamos a estrutura do Estado, fizemos uma política na janela de 88 para fazer reformas sociais, e fizemos muitas, democratizamos a relação com a sociedade com as conferências, congressos, conselhos, e fizemos um modelo de desenvolvimento econômico em que em um primeiro momento ficamos prisioneiros da banca financeira, mas que no segundo mandato fomos para a política do PAC, e uma política externa ativa e altiva do ponto de vista da soberania nacional. Essa reforma por dentro da ordem foi golpeada em um golpe preventivo, e nós erramos em não fazer a disputa política de corações e mentes para esse projeto”.
Para Genoíno, a falta dessas reformas no Estado permitiram o surgimento e o crescimento do antipetismo no Brasil, comparado pelo ex-parlamentar ao anticomunismo, “que era usado para justificar tudo: golpes, torturas, violências pelo mundo afora. O antipetismo começou a justificar tudo, e daí os casuísmos do lavajatismo, das prisões, dos processos”.
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