terça-feira, 8 de dezembro de 2020

José Dirceu afirma que se a esquerda for desunida nas eleições de 2022 irá perder novamente

 

                                                 José Dirceu (Foto: Lula Marques)
No 247

Não dá para deixar de escrever sobre eleições, mas, contrariando a toada da grande mídia que diz que o PT e Bolsonaro foram derrotados, os dois extremos, os radicais, a realidade é outra. Primeiro porque o PT é o que sempre foi, um partido de esquerda, socialista, que nos governos e no Parlamento, na luta democrática e social, sempre se aliou e constituiu governos e lutas de centro-esquerda. Segundo porque, se é verdade que Bolsonaro não elegeu, de maneira geral, seus candidatos, também é verdade que os partidos que apoiam seu extremismo autoritário, obscurantista e fundamentalista cresceram e muito. Quem dominou o resultado foram os partidos de centro-direita: PSDB e MDB, que perderam muito mas continuam grandes, e o DEM que se recuperou. 

O chamado centrão, com destaque para o PSD, PP e PL, cresceu, apoiado na máquina e no dinheiro. Todos, com raras exceções, fizeram uso do arsenal de fakes news, obscurantismo religioso e baixaria do bolsonarismo, principalmente contra o PT. É bom sempre lembrar o derrame de recursos, caixa dois, compra de voto de forma nunca vista com o DNA das emendas impositivas. Nossa esquerda teve altos e baixos. O PT se manteve e retomou a iniciativa, saiu às ruas, expôs sua cara e identidade e lutou bravamente, principalmente sua militância. Fez o que pode depois de anos submetido à uma verdadeira guerra de cerco e aniquilamento. O PSB perdeu, apesar da vitória em Recife; o PDT também encolheu, mas registrou a vitória em Fortaleza. O PCdoB continua sua luta para superar a cláusula de barreira. 

Uma das novidades dessa eleição municipal, ao lado do fim da proporcionalidade e da tragédia da pandemia que não deve ser subestimada na avaliação eleitoral, foi o fim dos programas partidários, o exíguo e controlado tempo de TV e rádio. Na prática, o fim dos debates, que prejudicou muito o PT e a esquerda, submetidos a uma censura implacável na grande mídia, leia-se Rede Globo.

(...)

Há um esforço midiático e de disputa da opinião pública para, de novo, enterrar o PT e inviabilizar a necessária unidade das esquerdas na oposição a Bolsonaro e na construção de uma alternativa viável em 2022. Isso impõe às esquerdas o difícil desafio de combater em duas frentes: na oposição radical a Bolsonaro e na sua auto-reforma e renovação, sem o que poderão ser superadas pela centro-direita. Esta, apoiadora do programa radical liberal de Guedes-Bolsonaro, mas preparada – ainda busca um nome -- para disputar e conquistar o Planalto. 

Se queremos conquistar o coração dos brasileiros, precisamos ouvir o recado das urnas das últimas eleições municipais. As esquerdas precisam se unir em torno de um programa – o que não será tarefa difícil, pois vários partidos, incluindo o PT, têm formulações muito discutidas e avançadas. E precisam, sobretudo, traduzir para a população um projeto de sonho e esperança que começa pela sua unidade generosa e renovadora construída em Porto Alegre, Florianópolis e Belém e, no segundo turno, em São Paulo em torno de Boulos. Somente uma frente de esquerda unida e combativa poderá reunir em torno de seu candidato setores democráticos e das classes médias anti-bolsonaristas.

Não podemos nos iludir. Se nos dividirmos de forma sectária e praticarmos a intolerância, vamos pavimentar seguramente o caminho para a derrota. Cabe a nós dar o exemplo para superar o ódio e a intolerância que tomou conta da política e do país, infelizmente replicados por partidos da centro-direita. Não haverá saída nem salvação sem a unidade das forças de esquerda, unificando os setores democráticos, progressistas e nacionalistas. Só assim poderemos atender aos anseios do povo trabalhador e dos marginalizados do nosso Brasil. 

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